Sou professor da Faculdade de Ciências Sociais, do Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da Puc- Campinas, desde 1985. Sou licenciado em Filosofia pela Universidade de Mogi da Cruzes. Graduado em Teologia pela Faculdade de Teologia do Ipiranga, São Paulo e mestre em Ciências Sociais pela Puc- São Paulo. Publiquei o livro "Os Catolicismos Brasileiros", 3ª edição, Editora Alínea. - Campinas, 2015, resultado de uma pesquisa para o mestrado em Ciências Sociais. Sou um dos organizadores do livro "Sociologia Geral e do Direito", 7ª edição, Editora Alínea, Campinas, 2020. Colaborei no livro "Introdução às Ciências Sociais", organizado pro Nelson Marcelino, 14ª edição, Editora Papirus, Campinas, 2005 "O Brasil e o mundo - questões para o século XXI" , organizado por Alberto Martins, Ed. Companhia da Escola, 2002 e "Direito, Legislação e Cidadania", organizado por Angelica Carlini e Luis Renato Vedovato, Editora Alínea, 2009.
Ainda dentro de minhas atividades acadêmicas, fui durante 10 anos (1989-1999) coordenador da CPCD (Coordenação Permanente da Carreira Docente), da Puc- Campinas, primeiro projeto de implantação da Carreira Docente na Universidade, resultado de uma memorável luta dos professores. Coordenei um Grupo de Trabalho na Pró-Reitoria de Graduação, responsável pelo projeto de Avaliação do Ensino, de 2010 a 2013.
Além da Sociologia, tenho interesse no estudo do cinema como instrumento de formação. No final do curso de Teologia, fiz uma monografia "O Cinema e o Sagrado", publicada posteriormente em dois números da Revista Comunicarte (nº 10 e 11) do antigo Instituto de Arte e Comunicação da Puc-Campinas) na qual procurei analisar a possibilidade de o sagrado ser expresso de uma maneira adequada no cinema. Tenho apresentado algumas atividades de Prática de Formação: Cinema e Sociologia e Cinema e Sociedade Capitalista, Cinema e Ditadura Militar, O Mundo do Trabalho através do Cinema.
Ditadura Militar no Brasil, O Direito no Cinema I, O Direito no Cinema II. Tambem oficinas para os professores sobre o cinema em sala de aula e sobre o mundo do trabalho através do cinema. Estes trabalhos estão na seção "Vale a pena ler". Atualmente procuro desenvolver uma metodologia para o uso do cinema em sala de aula, principalmente nas minhas aulas na Faculdade de Direito.Participei também de atividades sindicais, tendo sido, durante alguns anos, da diretoria do Sinpro (Sindicato dos Professores de Campinas) e da Apropuc (Associação dos Professores da Puc). Já fui professor em muitos lugares. Ordenado padre, em 1960, comecei a lecionar Literatura no Seminário Menor de Guaxupé-MG e Lógica e Sociologia no Seminário Maior, no curso de Filosofia. No inicio de 1964, fui um dos fundadores e o primeiro diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da cidade e professor também de Sociologia até 1967. Em 1967, fui para a diocese de Itabira onde fiz um trabalho com os operários da Vale do Rio Doce e durante o ano de 1968, estive trabalhando na CNBB, no Rio de Janeiro, quando tive a oportunidade de presenciar e participar das lutas sociais contra o regime militar. Deixando o sacerdócio no final de 1968, lecionei Sociologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Passos (1969 /1970), na Faculdade de Administração de Atibaia (1970), na Faculdade de Direito de Itu (1971/1995), nas Faculdades Padre Anchieta de Jundiaí (1970/1995), nas Faculdades Franciscanas de Itatiba (1970/1984) na Faculdade de Direito da Uni-Campinas (1995-2005).Em 2017, quando completei 80 anos, minhas filhas e alguns professores tiveram a ideia de fazer um documentário sobre a minha vida. Fizeram uma campanha de arrecadação da verba necessária e convidaram minha sobrinha, Ana Peta, atriz e diretora de cinema, para a direção. O documentário intitulado “Afastando Muros” foi realizado e teve seu lançamento no dia 19 de maio numa sala de cinema do Shopping Galeria.
O documentario está no Youtube. Acesse FAMILIA ARNALDO LEMOS e em seguida AFASTANDO MUROS : https://youtu.be/k8uj84sgQns?si=H5Z-9KLDf8QSBA64
O documentário está tambem na plataforma VIMEO. Para acessar, clique no link abaixo e use a senha: lemos
Bruna Mozer,aluna do curso de jornalismo da Puc, fez uma Pratica de Formação comigo e gostou. Como tinha que fazer um trabalho numa disciplina sobre o perfil de uma pessoa, fez comigo.
Publicou o texto em seu blog:
http://sobcontextos.blogspot.com/
A aluna não me enviou o texto para corrigir.Há coisas interessantes e alguns exageros.
Eis o texto:
Quarta-feira, 1 de Julho de 2009
A história de Arnaldo Lemos sempre me chamou a atenção e me despertou curiosidade. Em diversas vezes, havia tentado aproveitar qualquer oportunidade para saber mais sobre a sua vida e história. No final do último semestre, surgiu a possibilidade. Compartilho aqui:
Quem o conheceu há 50 anos, jamais imaginaria o rumo que sua vida tomaria. O caminho que parecia pré-destinado para o sociólogo e ex-padre, Arnaldo Lemos Filho, começou a ser desviado quando o seu instinto de contestação começou a despertar.
E o que parece hoje, aos 72 anos, é que Lemos ainda possui esse espírito contestador ainda bastante conservado. Lemos, sindicalista com grande influência nas décadas de 80 e 90, um dos representantes do Sindicato dos Professores de Campinas da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), participante de movimentos sociais desde quando exercia o Ministério Sacerdotal, não é filiado a nenhum partido. "Tem amigos que acham que eu sou de direita por que não me filiei ao PT ou ao PC do B", conta se divertindo. A explicação para essa isenção partidária é a de que não encontrou uma ideologia exata que o fizesse defender a bandeira. "Em cima do muro a gente vê os quintais", ironiza. Do mesmo modo, como abandonou o sacerdócio por não concordar com tudo o que pregava. O dogmatismo e o purismo que ainda rejeita na Igreja Católica, fez com que deixasse de lado a idéia de se filiar aos partidos com que tinha afinidade logo na sua formação: Partido Comunista do Brasil e Partido dos Trabalhadores. "A Igreja já é dogmática e purista". Também foram por esses motivos que abandonou o sacerdócio.
Lemos entrou para o seminário aos onze anos, por influência da família extremamente religiosa. Nascido em São Sebastião do Paraíso, sul de Minas Gerais, com pouca idade mudou-se para Guaxupé (MG), para ingressar no seminário.
Aos 23 anos, em 1960, se ordenou padre e passou a dar aulas para os seminaristas. Oito anos depois, em 15 de dezembro de 1968, dois dias depois de ser decretado o Ato Institucional (AI-5), se desligou da Igreja. "Não via mais sentido no que fazia".
Sociólogo apaixonado, passou a vida como professor universitário. O que parece, é que a paixão pela sociologia nasce por permiti-lo ver o mundo em cima dos quintais. "Arnaldo é um contestador. Influenciou toda a família, que se filiou ao PC do B, mas jamais concordou com o partido ao ponto de levantar a sua bandeira", conta o marido de sua irmã e grande amigo, Augusto Petta.
A primeira vez que teve algum contato com a política, foi em 1955, quando não havia se ordenado. Lemos foi chamado para preparar o ritual litúrgico da missa em comemoração ao aniversário do qual seria, no ano seguinte, o futuro presidente da república, Juscelino Kubitschek de Oliveira. "Os murmúrios políticos no café que ocorreu após a celebração, me fez perceber que alguma coisa acontecia no Brasil".
No mesmo ano, Lemos iniciou o curso de Teologia na PUC São Paulo. Na universidade, conheceu o movimento ligado à Igreja, Juventude Operária Católica (JOC), em que participou entre 1958 e 1959. Nesse momento eram dados os primeiros passos ao engajamento político e o despertar de sua consciência social. "Era um movimento muito forte na Igreja, em auxílio aos operários".
A Igreja Católica possui vários movimentos em prol dos mais carentes. Foi nisso, que Lemos se apegou. Mesmo contestando e indagando diversos dogmas da Igreja, como o batismo em crianças, Lemos acreditava que poderia unir o humanismo de Karl Marx com o conceito de igualdade reproduzido pela Igreja. Para o ex-padre, os conceitos da Igreja e Marx tinham o mesmo propósito: a igualdade entre as pessoas. "Se a Igreja é do povo de Deus, então há nela o humanismo de Marx", pensava. Lemos ainda ressalta o que ainda traz consigo: "não acredito no marxismo ortodoxo, mas no humanismo".
O primeiro filho de 14 irmãos, ele influenciou politicamente toda a família.
Apesar do pai ser vereador por longos anos na cidade de Jundiaí, ele era um político conservador. "Eu levava muitos livros para meus irmãos", relembra.
Sua irmã, dez anos mais nova, Maria Clotilde Lemos Petta, é a que mais foi influenciada pelo irmão. "Ele sempre me trazia livros. O Diário de Anne Frank, marcou muito a minha geração e me influenciou muito".
Logo que se ordenou padre, Lemos foi chamado a palestrar num uma semana de estudos, organizada pelo Conselho Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), em Belo Horizonte. O objetivo era apresentar o Movimento de Base, método de educação desenvolvido por Paulo Freire. A Igreja, na época, queria formar sindicatos rurais na região para dar assistência social aos moradores que lidavam com o campo e inserir ali, o método Paulo Freire. "Voltei muito entusiasmado com o projeto". No entanto, o trabalho com os camponeses rendeu-lhe um mal estar com os fazendeiros da região. "Começaram a falar que eu era um padre comunista", relembra, achando graça. Ao final da missa, Lemos trocava o convite por café na casa dos fazendeiros para conversar com os camponeses. "No final da missa, eu avisava que queria fazer uma reunião com os trabalhadores. Eu queria saber qual era a real situação deles, as condições de trabalho, os salários etc".
O cenário político no Brasil começava ganhar ares pesados. Em 1963, com João Goulart na presidência, começava a inserir no país a chamada Reforma de Base.
Uma medida adotada pelo governo, em que previa a reformulação estrutural de diversos setores: educacional, fiscal, político e agrário. Com o apoio da Igreja Católica nesta medida, Lemos, adepto à idéia, começou utilizar as missas que celebrava para fazer pregações e levar ao conhecimento das pessoas, o que era a Reforma de Base. No entanto, as pregações não pararam por ali, Lemos começou unir as mensagens do Evangelho com os fatores políticos e sociais que cercavam o Brasil. "A Igreja passou a lotar nas missas de domingo", conta, rindo.
O golpe militar, que deu a início aos anos de repressão no Brasil, ocorreu em 31 de março de 1964. Lemos conta que na cidade pequena de Guaxupé, no qual ainda estava, começou um falatório a fim de saber o que "o padre Arnaldo ia falar na homilia de domingo". O povo da cidade começava a entender a situação política do país nas pregações que ele fazia.
Para o país, o golpe militar ainda era um enigma. Até mesmo a imprensa sabia o que, na real, aquilo significava. Para não desapontar a expectativa de seus fieis, Lemos leu a seguinte mensagem em sua pregação: "Na quinta-feira houve no Brasil um movimento militar que depôs o presidente da república e isso ocorreu por duas razões: corrupção e subversão. Então quer dizer que agora, está declarada a ordem no país. Portanto, a paz esteja convosco. Mas a paz quer dizer a ordem. Mas será que estamos em ordem? Como estão os camponeses? Como estão os trabalhadores? Há fome, há desigualdade ...".
Quando decidiu abandonar o sacerdócio, descobriu que não conseguia encontrar uma verdade absoluta na Igreja. Voltou a dar aulas, o que realmente gostava de fazer. Em 1975, entrou para o sindicato dos professores universitários ao qual passou a lutar por melhores condições de trabalho e pedagógicas. Participou dos movimentos das "Diretas Já", passeata dos Cem Mil.
"Arnaldo se tornou grande referência entre os movimentos", conta a irmã. Lemos e Clotilde participaram ativamente em todos debates políticos e movimentos sociais.
Hoje, está casado há 36 anos e tem três filhas. "Elas não seguiram esse lado das ciências humanas", conta. Hoje abandonou a religião católica e não educou suas filhas para nenhuma outra. Lemos tem uma visão libertária do mundo e por isso que sobrevive a sua paixão. "Eu gosto é de estudar a sociedade. Gosto de ver os quintais".
Terça-feira, 30 de Junho de 2009
M.J.